Tendências na indústria de mobilidade apontam para um transporte ecologicamente correto e autossuficiente
Tendências na indústria de mobilidade apontam para um transporte ecologicamente correto e autossuficiente
Publicado por Brink News em 1° de fevereiro de 2021
Pessoas andam de bicicleta na cidade de Nova York durante a pandemia do coronavírus. Dos EUA até a Europa, o ciclismo tornou-se uma opção popular no ano passado para os viajantes, pois assim eles não se restringiam aos bairros próximos do transporte público.
Como dirigir em uma estrada escura com faróis quebrados, tem sido difícil navegar pela indústria da mobilidade em 2020.
O coronavírus transformou como – e quanto – nos movimentamos. As redes de transporte público pelo mundo estão operando com uma fração da capacidade, pois as pessoas ficam em casa ou optam por modos de transporte mais individuais, com a posse de carros vivenciando uma ressurgência em algumas áreas urbanas. Até agora, a pandemia não mostra sinais de desacelerar o boom do transporte ecologicamente correto.
Os governos permaneceram firmes em seu compromisso com a mobilidade mais verde. A União Europeia, por exemplo, está investindo mais de $ 2 bilhões em projetos de transporte como o reforço das ligações ferroviárias transfronteiriças e a implantação de mais estações de recarga. As cidades reagiram rapidamente para tornar suas ruas mais hospitaleiras para pedestres e ciclistas. E embora as vendas de carros tenham se recuperado fortemente em muitas áreas, mais e mais deles são veículos elétricos (VEs).
A urgência de ação contra a mudança climática deve se intensificar antes da conferência COP26 da ONU em Glasgow em novembro. Isso sugere que a demanda por opções de trânsito mais ecológicas e seguras deverá acelerar no novo ano.
Carros são os vencedores de 2020
Os viajantes evitaram os vários tipos de transporte público e se voltaram para os meios pessoais de mobilidade durante a pandemia. Cerca de um quarto das pessoas dizem que estariam menos dispostas a se deslocar de ônibus ou metrô após o final da ordem de lockdown, de acordo com uma pesquisa do Fórum da Oliver Wyman em oito países, em junho.
Em contrapartida, os carros ganharam força no sentimento do viajante. Das pessoas pesquisadas, 46% afirmaram que estariam mais dispostas a se deslocar de automóvel após a suspensão das ordens de lockdown. As vendas de automóvel apresentaram uma recuperação no segundo semestre do ano, depois do fechamento de fábricas pelo mundo na primavera devido à pandemia. Ainda mais impressionante foi a mudança para veículos elétricos, que pagaria dividendos de sustentabilidade se vingasse. As vendas de VE aumentaram pela Europa em 2020, em especial na Noruega e na Alemanha, e mais mercados pelo mundo estão preparados para um crescimento similar. Com a redução do preço das baterias e maior infraestrutura de recarga e modelos disponibilizados, esperamos que os EUA vivenciem o aumento na adoção de VEs durante 2021.
Ciclistas e pedestres vieram para ficar
Dos EUA até a Europa, o ciclismo tornou-se uma opção popular no ano passado para os viajantes, pois assim eles não precisavam se restringir aos bairros próximos do transporte público. Cerca de um quarto dos ciclistas disseram que estariam mais dispostos a se deslocar em duas rodas quando retornassem ao escritório. Com os pedestres não foi diferente: 41% dos pedestres disseram que estariam mais dispostos a continuar caminhando quando retornassem ao escritório.
Esperamos que esses ganhos de micromobilidade continuem até 2021, principalmente com muitas cidades reestruturando sua infraestrutura. Cidades como Berlim, Bogotá e Nova York têm reprojetado suas ruas para dar lugar a mais pedestres e ciclistas em resposta à covid-19. Outras, como Montreal, São Francisco e Viena, estão proibindo o tráfego e reduzindo os limites de velocidade para criar “ruas lentas” para pedestres e ciclistas.
Essas mudanças municipais são apenas uma parte de uma tendência maior que vemos em 2021 rumo à mobilidade mais verde.
Mudança climática irá impulsionar a regulamentação da mobilidade
Muitos governos estão mantendo seus compromissos com a regulamentação da mudança climática a despeito das consequências financeiras da pandemia, e sua ousadia fortalecerá o crescimento de formas de transporte ecologicamente corretas em 2021 e depois.
A União Europeia reafirmou padrões rígidos de emissão de gases dos veículos, enquanto Japão e Califórnia tomaram medidas para descontinuar os carros a gasolina. Mais governos estão oferecendo dinheiro e outros incentivos criativos, como estacionamento ou recarga mais fácil, para convencer os consumidores a comprar um VE.
Como demonstrado em nosso Índice de Preparação para Mobilidade Urbana, nem todas as cidades têm uma visão holística para a mobilidade do futuro. Ainda assim, esperamos que mais governos adotem regulamentações ou legislações que promovam modais de transporte ecologicamente corretos. Isso deverá desencadear a chegada do novo capítulo da mobilidade: um que seja limpo, resiliente e cada vez mais digital.
As tecnologias virtuais sobreviverão à covid-19
A mobilidade não é exceção à aceleração da digitalização em nossas vidas diárias. Com tecnologias como telessaúde, entregas de supermercado on-line ou videoconferência, muitos se adaptaram rapidamente às medidas do lockdown. Isso pode se tornar uma mudança de estilo e vida, em vez de um ajuste temporário.
Mais da metade daqueles que experimentaram tecnologias de videoconferência, supermercado on-line, telessaúde ou e-learning irão usá-las mais depois da covid-19. O poder de permanência dessas tecnologias tem menos a ver com segurança de evitar o contágio do que se pode pensar: economizar tempo e produzir tanto quanto no trabalho presencial foram os principais motivos alegados pelas pessoas pesquisadas para continuar usando as tecnologias virtuais.
Os usuários da mobilidade estão prevendo uma mudança duradoura no comportamento. Gioia Ghezzi, presidente da operadora de transporte de massa de Milão, disse em uma mesa redonda do Fórum da Oliver Wyman que ela e sua equipe acreditam que a capacidade de passageiros no novo normal será de apenas 80% do antigo normal. Com as pessoas se deslocando menos para trabalhar, fazer compras e receber cuidados médicos, as implicações para a mobilidade são tão altas e claras quanto o apito de um trem.
As empresas se adaptam e firmam parcerias para ter sucesso
Os provedores de mobilidade estão adotando essas soluções digitais em resposta às novas realidades do mercado. “Espero uma tremenda aceleração do setor digital”, disse Ghezzi, que mencionou coisas como passagens sem papel e aplicativos de informação para viagens de trem e ônibus. Caroline Parot, diretora executiva do Europcar Mobility Group, disse na mesa redonda do Fórum que seu grupo estava promovendo locação de veículos sem contato reservadas on-line no curto prazo – dias e horas, em vez de algumas semanas.
Essas mudanças nos modelos de negócio não são fáceis ou baratas. Muitas exigem colaboração entre os setores público e privado para que as coisas aconteçam. As cidades não têm capital para transformar suas redes de mobilidade, o que torna as parcerias estratégicas mais importantes do que nunca no novo ano. Esperamos que a concorrência entre as cidades por essas colaborações aqueça, à medida que os participantes da mobilidade buscam governos mais inovadores e voltados para o futuro.
Promover a inovação, a igualdade e a colaboração está no cerne no novo corredor de veículos autônomos de Michigan entre Detroit, o centro de negócios do estado, e Ann Arbor, a sede da University of Michigan. Não teria sido possível ao estado construir o corredor sem a parceria de organizações de tecnologia, mobilidade e educação – nenhuma delas está nisso em busca de retorno financeiro.
“Não se trata apenas de tecnologia pela tecnologia”, disse Trevor Pawl, primeiro diretor de mobilidade de Michigan. “A ideia aqui é olhar para os sistemas de transporte existentes que levam as pessoas pela cidade e criam igualdade ou desigualdade, e usar essa nova tecnologia para torná-los melhor.”
À medida que o mundo busca se reconstruir melhor, antevemos mais dessas parcerias ousadas que serão a força motriz da mudança na indústria da mobilidade. A colaboração “se tornará obrigatória porque todos nós temos tantas coisas a fazer”, disse Parot. “Não seremos capazes de reinventar tudo sozinhos.”